A
língua portuguesa tem uma das histórias mais fascinantes entre as línguas de
origem européia. Em razão das navegações portuguesas nos séculos XV e XVI,
tornou-se um dos poucos idiomas presentes na África, América, Ásia e Europa,
sendo falado por mais de 200 milhões de pessoas.
Este
texto procura inicialmente apresentar um pouco da história desta língua,
partindo das raízes latinas na Europa até o português moderno. Em seguida,
apresenta a situação atual do português nos diversos países e regiões do mundo
onde ele é falado. Este texto não é escrito para especialistas em línguas. Destina-se às
pessoas em geral que desejam conhecer um pouco mais sobre a língua portuguesa.
Trata-se de um trabalho formado a partir de contribuições recolhidas de
diversas fontes.
O período pré-românico
Os
linguístas têm hoje boas razões para sustentar que um grande número de línguas
da Europa e da Ásia provêm de uma mesma língua de origem, designada pelo termo
indo-europeu. Com exceção do basco, todas as línguas oficiais dos países da
europa ocidental pertencem a quatro ramos da família indo-européia: o helênico
(grego), o românico (português, italiano, francês, castelhano, etc.), o
germânico (inglês, alemão) e o céltico (irlandês, gaélico). Um quinto ramo, o
eslavo, engloba diversas línguas atuais da Europa Oriental.
Por
volta do II milênio a.C., o grande movimento migratório de leste para oeste dos
povos que falavam línguas da família indo-européia terminou. Eles atingiram seu
habitat quase definitivo, passando a ter contato permanente com povos de origens
diversas, que falavam línguas não indo-européias. Um grupo importante, os
celtas, instalou-se na Europa Central, na região correspondente às atuais
Boêmia (República Tcheca) e Baviera (Alemanha).
Povos
de línguas indo-européias: germanos, eslavos, celtas, úmbrios,
latinos, oscos, dórios.
Povos
de origens diversas: iberos, aquitanos, lígures,
etruscos, sículos.
Os
celtas estavam situados de início no centro da Europa, mas entre o II e o I
milênios a.C. foram ocupando várias outras regiões, até ocupar, no século III
a.C., mais da metade do continente europeu. Os celtas são conhecidos, segundo
as zonas que ocuparam, por diferentes denominações: celtíberos na Península
Ibérica, gauleses na França, bretões na Grã-Bretanha, gálatas no centro da
Turquia, etc.
O
período de expansão celta veio entretanto a sofrer uma reviravolta e, devido à
pressão exterior, principalmente romana, o espaço ocupado por este povo
encolheu. As línguas célticas, empurradas ao longo dos séculos até as
extremidades ocidentais da Europa, subsistem ainda em regiões da Irlanda (o
irlandês é inclusive uma das línguas oficiais do país), da Grã-Bretanha e da
Bretanha francesa. Surpreendentemente, nenhuma língua céltica subsistiu na
Península Ibérica, onde a implantação dos celtas ocorreu em tempos muito
remotos (I milênio a.C.) e cuja língua se manteve na Galiza (região ao norte de
Portugal, atualmente parte da Espanha) até o século VII d.C.
O período românico
Embora
a Península Ibérica fosse habitada desde muito antes da ocupação romana, pouquíssimos
traços das línguas faladas por estes povos persistem no português moderno.
A
língua portuguesa, que tem como origem a modalidade falada do latim,
desenvolveu-se na costa oeste da Península Ibérica (atuais Portugal e região da
Galiza, ou Galícia) incluída na província romana da Lusitânia. A partir de 218
a.C., com a invasão romana da península, e até o século IX, a língua falada na
região é o romance, uma variante do latim que constitui um estágio
intermediário entre o latim vulgar e as línguas latinas modernas (português,
castelhano, francês, etc.).
Durante
o período de 409 d.C. a 711, povos de origem germânica instalam-se na Península
Ibérica. O efeito dessas migrações na língua falada pela população não é
uniforme, iniciando um processo de diferenciação regional. O rompimento
definitivo da uniformidade linguística da península irá ocorrer mais tarde,
levando à formação de línguas bem diferenciadas. Algumas influências dessa
época persistem no vocabulário do português moderno em termos como roubar,
guerrear o branco.
A
partir de 711, com a invasão moura da Península Ibérica, o árabe é adotado como
língua oficial nas regiões conquistadas, mas a população continua a falar o
romance. Algumas contribuições dessa época ao vocabulário português atual são arroz,
alface, alicate e refém.
No
período que vai do século IX (surgimento dos primeiros documentos
latino-portugueses) ao XI, considerado uma época de transição, alguns termos
portugueses aparecem nos textos em latim, mas o português (ou mais precisamente
o seu antecessor, o galego-português) é essencialmente apenas falado na
Lusitânia.
O galego-português
No
século XI, à medida que os antigos domínios foram sendo recuperados pelos
cristãos, os árabes são expulsos para o sul da península, onde surgem os dialetos
moçárabes, a partir do contato do árabe com o latim.
Com
a Reconquista, os grupos populacionais do norte foram-se instalando mais a sul,
dando assim origem ao território português, da mesma forma que, mais a leste na
Península Ibérica, os leoneses e os castelhanos também foram progredindo para o
sul e ocupando as terras que, muito mais tarde, viriam a se tornar no
território do Estado espanhol.
Com
o início da reconquista cristã da Península Ibérica, o galego-português
consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Em galego-português são
escritos os primeiros documentos oficiais e textos literários não latinos da
região, como os cancioneiros (coletâneas de poemas medievais):
Cancioneiro
da Ajuda - Copiado (na época ainda não havia imprensa) em Portugal em fins do
século XIII ou princípios do século XIV. Encontra-se na Biblioteca da Ajuda, em
Lisboa. Das suas 310 cantigas, quase todas são de amor.
Cancioneiro
da Vaticana - Trata-se do códice 4.803 da biblioteca Vaticana, copiado na
Itália em fins do século XV ou princípios do século XVI. Entre as suas 1.205
cantigas, há composições de todos os gêneros.
Cancioneiro
Colocci-Brancutti - Copiado na Itália em fins do século XV ou princípios do
século XVI. Descoberto em 1878 na biblioteca do conde Paulo Brancutti do Cagli,
em Ancona, foi adquirido pela Biblioteca Nacional de Lisboa, onde se encontra
desde 1924. Entre as suas 1.664 cantigas, há composições de todos os gêneros.
O português arcaico
À
medida que os cristãos avançam para o sul, os dialetos do norte interagem com
os dialetos moçárabes do sul, começando o processo de diferenciação do
português em relação ao galego-português. A separação entre o galego e o
português se iniciará com a independência de Portugal (1185) e se consolidará
com a expulsão dos mouros em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que
tentaram anexar o país. No século XIV surge a prosa literária em português, com
a Crônica Geral de Espanha (1344) e o Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde
de Barcelos.
Entre
os séculos XIV e XVI, com a construção do império português de ultramar, a
língua portuguesa faz-se presente em várias regiões da Ásia, África e América,
sofrendo influências locais (presentes na língua atual em termos como jangada,
de origem malaia, e chá, de origem chinesa). Com o Renascimento, aumenta o
número de italianismos e palavras eruditas de derivação grega, tornando o
português mais complexo e maleável. O fim desse período de consolidação da
língua (ou de utilização do português arcaico) é marcado pela publicação do
Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.
O português moderno
No
século XVI, com o aparecimento das primeiras gramáticas que definem a
morfologia e a sintaxe, a língua entra na sua fase moderna: em Os Lusíadas, de
Luis de Camões (1572), o português já é, tanto na estrutura da frase quanto na
morfologia, muito próximo do atual. A partir daí, a língua terá mudanças
menores: na fase em que Portugal foi governado pelo trono espanhol (1580-1640),
o português incorpora palavras castelhanas (como bobo e granizo); e a
influência francesa no século XVIII (sentida principalmente em Portugal) faz o
português da metrópole afastar-se do falado nas colônias.
Nos
séculos XIX e XX, o vocabulário português recebe novas contribuições: surgem
termos de origem grecolatina para designar os avanços tecnológicos da época
(como automóvel e televisão) e termos técnicos em inglês em ramos como as
ciências médicas e a informática (por exemplo, check-up e software). O volume
de novos termos estimula a criação de uma comissão composta por representantes
dos países de língua portuguesa, em 1990, para uniformizar o vocabulário
técnico e evitar o agravamento do fenômeno de introdução de termos diferentes
para os mesmos objetos.
(Texto apreciado do Blog Aprenda com Eliezer)
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