O papel da Linguística
no curso de Letras
A
aplicação da Linguística ao ensino do português deu margens a inúmeras
distorções e equívocos em que o ensino da língua materna mudou, tanto nas
Universidades como nas escolas secundárias.
A
linguagem coloquial, pela qual a literatura sempre se interessou mais do que a
escola, aparece nos chamados “textos de leitura” de nossos livros didáticos e
estes propõem problemas, como o da variedade de funções da linguagem ou as
especificidades da língua escrita em oposição à língua falada, que antes eram
ignoradas na perspectiva gramatical ou histórico – filológica.
Percebe-se
então, que o papel da Linguística no curso de Letras discute a importância formativa
da Linguística para o futuro professor de Português, pois com ela tem-se uma
visão ampla e não preconceituosa dos fatos da língua, pois as gramáticas
tradicionais, em suas versões escolares, veiculam uma visão empobrecida das
habilidades dos falantes de uma língua historicamente dada, e servem ao
propósito de manter uma estratificação sociolingüística tão rígida quanto
possível. Vale
ressaltar também, que hoje em dia, estamos livres dos compromissos filosóficos
que deram origem à gramática tradicional, pois o compromisso da Linguística é
preparar o futuro professor para compreender a atividade de fala de seus
alunos. Já que a gramática tradicional se revela tão pouco eficaz que chega a
ser um fator de desvio, é preciso testar outros instrumentos.
Percebe-se
também, que por sua sensibilidade às situações em que se dá de fato o ensino de
Português, a Linguística leva a um ensino diversificado, e alguns não hesitam
em apontar aí o risco para essa coisa sagrada que são os “valores nacionais”. As
manifestações contra a inclusão da lingüística nos currículos de Letras têm
motivos definidos: exclui-se a linguística porque suscita a todo momento o
contraste entre culturas dominantes e culturas relegadas, entre formas de expressão
socialmente prestigiadas e formas de expressão despretigiadas, entre a solução
de gabinete e as soluções de quem vive os fatos, entre a indústria de livros didáticos
e grandes tiragens e os materiais cujo parâmetro são pessoas reais.
Em
suma, a Linguística tem um potencial formativo muito grande, pois introduz na formação
do professor de Letras um elemento de participação ativa em análise da língua,
que o habilitará a reagir de maneira crítica às opiniões correntes, e lhe permitirá,
em sua vida profissional, avaliar com independência os recursos didáticos disponíveis
e as observações e dificuldades de seus alunos. Também amplia as perspectivas a
partir das quais a estrutura da língua pode ser observada, multiplica os horizontes
do que se pode considerar curiosidade legítima acerca da língua e da competência
para comunicar.