O texto a seguir é de autoria do professor
Aderbal Bett, meu professor do ensino médio, alguém que muito me incentivou
para a leitura e escrita. Na época, ele produziu este texto porque tinha como
proposta trabalhar com a turma sobre memórias. Espero que vocês, caros
leitores, também gostem!
Memórias de uma vassoura
Hoje
mesmo, bem cedinho, acordei com uma puxada daquelas, porque minha dona queria
dar uma vassourada no “Mingau”, o cachorro da casa.
É
sempre assim: me usam, me abusam.
A
dona Maria, a patroa, levanta cedo e antes de fazer o café já vai fazer a
limpeza da varanda, porque o Mingau carregou tudo o que é sujeira pra dentro de
casa. Depois me coloca de perna pra cima, novamente, atrás da porta.
Nem
descanso e lá vem o Joãozinho, o caçula da casa que acabou de acordar. Me pega.
Escarrancha as pernas sobre mim e começa a correr. Corre pra lá, corre pra cá,
me bate nas paredes, nos vasos de flores e até mesmo nos postes da varanda.
Fico toda dolorida. O pior é o Mingau, que além de morder, ainda me arranha,
correndo atrás do menino.
Dona
Maria chama o menino. Ele ainda dá uns pinotes, umas empinadas e sai à toda, batendo
em tudo o que encontra pela frente. Chega na cozinha, me joga no chão e ainda
me pisa.
Descanso. Mas por pouco tempo.
Dona
Maria serve o café para a molecada e pro seu Ambrósio. Despacha os mais velhos
pra escola e o marido para o serviço. Cada um que vai passando pisa em cima de
mim.
Nem
passa a dor, dona Maria me pega e vai lavar o banheiro que está uma imundície,
pois a Mariinha vomitou no piso e o Robertinho, que levantou sonolento, urinou
fora do vaso.
Lá
vou eu, esfregar o chão. Nem descanso da lavada do banheiro e lá vai a minha
dona varrer o quintal, mas antes me dá umas pancadas na calçada para retirar a
água que estava em mim.
Depois
me usa para varrer a casa. Quando vai passar o pano, me encosta na parede.Nesta
hora fico feliz, pois o rodo é que vai sofrer um pouco. O pano de chão também.
Acabou
o serviço. Descanso no meu lugar de sempre, atrás da porta.
Ali,
sossegadinha, fico pensando. Veja só: me utilizam e me reutilizam, todos, sem
exceção. Mas me conformo. Se não fosse eu a casa ficaria toda suja, o Joãozinho
e Mingau não teriam com quem brincar.
Vida
de vassoura é assim mesmo. Tem dia que me dá uma raiva danada. Já em outros
dias me conformo com a sina. Sou útil e inútil, valorizada e desprezada. Essa é
a minha vida. Assim vou levando ela ou ela vai me levando, sei lá. Só sei dizer
que sirvo para muita coisa, muita coisa mesmo.
Autor: Aderdal Bett
Antes
de propor as atividades, lembro-me que ele também nos apresentou o texto
“Memórias de um Cabo de Vassoura” de Orígenes Lessa, que pretendo reler e tecer
alguns comentários neste blog.
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