quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Relembrando...


  O texto a seguir é de autoria do professor Aderbal Bett, meu professor do ensino médio, alguém que muito me incentivou para a leitura e escrita. Na época, ele produziu este texto porque tinha como proposta trabalhar com a turma sobre memórias. Espero que vocês, caros leitores, também gostem!



                                    Memórias de uma vassoura

         Eu sou uma vassoura muito usada por minha dona e pelos seus filhos também.

                Hoje mesmo, bem cedinho, acordei com uma puxada daquelas, porque minha dona queria dar uma vassourada no “Mingau”, o cachorro da casa.

                É sempre assim: me usam, me abusam.

                A dona Maria, a patroa, levanta cedo e antes de fazer o café já vai fazer a limpeza da varanda, porque o Mingau carregou tudo o que é sujeira pra dentro de casa. Depois me coloca de perna pra cima, novamente, atrás da porta.

                Nem descanso e lá vem o Joãozinho, o caçula da casa que acabou de acordar. Me pega. Escarrancha as pernas sobre mim e começa a correr. Corre pra lá, corre pra cá, me bate nas paredes, nos vasos de flores e até mesmo nos postes da varanda. Fico toda dolorida. O pior é o Mingau, que além de morder, ainda me arranha, correndo atrás do menino.

                Dona Maria chama o menino. Ele ainda dá uns pinotes, umas empinadas e sai à toda, batendo em tudo o que encontra pela frente. Chega na cozinha, me joga no chão e ainda me pisa.

                 Descanso. Mas por pouco tempo.

                Dona Maria serve o café para a molecada e pro seu Ambrósio. Despacha os mais velhos pra escola e o marido para o serviço. Cada um que vai passando pisa em cima de mim.

                Nem passa a dor, dona Maria me pega e vai lavar o banheiro que está uma imundície, pois a Mariinha vomitou no piso e o Robertinho, que levantou sonolento, urinou fora do vaso.

                Lá vou eu, esfregar o chão. Nem descanso da lavada do banheiro e lá vai a minha dona varrer o quintal, mas antes me dá umas pancadas na calçada para retirar a água que estava em mim.

                Depois me usa para varrer a casa. Quando vai passar o pano, me encosta na parede.Nesta hora fico feliz, pois o rodo é que vai sofrer um pouco. O pano de chão também.

                Acabou o serviço. Descanso no meu lugar de sempre, atrás da porta.

                Ali, sossegadinha, fico pensando. Veja só: me utilizam e me reutilizam, todos, sem exceção. Mas me conformo. Se não fosse eu a casa ficaria toda suja, o Joãozinho e Mingau não teriam com quem brincar.       

                Vida de vassoura é assim mesmo. Tem dia que me dá uma raiva danada. Já em outros dias me conformo com a sina. Sou útil e inútil, valorizada e desprezada. Essa é a minha vida. Assim vou levando ela ou ela vai me levando, sei lá. Só sei dizer que sirvo para muita coisa, muita coisa mesmo.

                                                                                                         
                                                          Autor: Aderdal Bett


                Antes de propor as atividades, lembro-me que ele também nos apresentou o texto “Memórias de um Cabo de Vassoura” de Orígenes Lessa, que pretendo reler e tecer alguns comentários neste blog.
        

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